segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Vendo o mundo sem algumas lentes

Já parou pra pensar em quanta coisa você comprou ou fez por causa de uma propaganda bem bolada e criativa? Aquele “jingle” que você sabe “de cor” ou aquela famosa frase que você completa sem hesitar. Esses exemplos são alguns frutos do poder da propaganda.
Ela vem sido utilizada por gente esperta há muito tempo. Nas mãos de ditadores, como os conhecidos Hitler e Mussolini, ela encucou ideologias e “verdades absolutas” em nações. Nas mãos dos americanos, ela aterrorizava um povo, alertando sobre as terríveis tramas do socialismo. Já nas mãos dos soviéticos, ela convocava o povo a trabalhar e a não cair nas armadilhas do capitalismo sugador.
Aqui no Brasil, pudemos vê-la com muita clareza no Estado Novo, quando Getúlio Vargas resolveu querer colocar alguns princípios fascistas na pátria amada. E deu certo. Um dos pontos mais legais que vale a pena ressaltar é o nacionalismo. Foi quando a propaganda caracterizou, de alguma forma, o país, dando-lhe a figura de um líder forte, que transformaria uma grande porção de terra, com habitantes de origens completamente distintas, em um robusto país, com um mesmo ideal. Nisso, há positividade no uso da propaganda do período ditatorial varguista. Na mesma época, nos recordamos da convocação dos paulistas em torno de uma revolução de fachada, a Revolução Constitucionalista Paulista de 1932, onde eram comuns panfletos a convocar o apoio e auxílio dos trabalhadores em tão nobre causa: vinda de interesses da elite.
E quanto aos dias atuais? Tenho a certeza de que você se lembra do “slogan” da Fiat, “Vem pra rua”, que virou lema das manifestações populares em 2013. Agora, em 2014, vem a propaganda do Governo Federal e de instituições privadas em torno da Copa do Mundo. Cabe a você, leitor e cidadão, tirar suas próprias conclusões quanto a isso. Não julgo o futebol, pois ele está impresso na imagem do nosso país, e isso não há como mudar. Para os que dizem que tal esporte aliena, creio que os alienados são aqueles que se deixam alienar. Segundo o jornalista britânico Simon Kuper, em entrevista à BBC Brasil, “os governos dos países ‘fingem’ que acreditam no legado da Copa para ter apoio popular.” Além disso, ele ressaltou que o maior legado não está na economia, mas sim na alegria nacional que eventos como esses geram.
            O que quero transmitir é: devemos fazer uma análise mais profunda dos fatos, ainda que na correria diária e mesmo quando bombardeados de todos os lados por informações (necessárias ou não).
            Uma experiência muito boa que tive foi quando assisti ao documentário “Barka”, produzido por Carlinhos Antunes, sobre Burkina Faso. Nunca imaginaria a luta de uma garota para cursar uma universidade, ou que tivessem ideais tão sólidos, uma cultura emergente cheia de gente jovem que pensa em um país melhor. Um rapper de Guiné- Bissau com suas letras e discursos incríveis. A imagem que eu tinha, de um país estereotipado, com um péssimo IDH, cheio de doenças e miséria, tal imagem construída pela mídia e até mesmo por livros didáticos, foi sendo desconstruída pelo altruísmo, alegria e as ideias desse povo.
            Deixo com vocês um pouco do alemão Bertolt Brecht, em seu poema “Necessidade de Propaganda”:

“É possível que em nosso país nem tudo vá bem como deveria ser
Mas ninguém pode duvidar que a Propaganda é boa.
Até quem passa fome deve admitir
Que o Ministério da Alimentação fala bem. (...)

Entretanto: bons discursos também possibilitam muito
Assim possibilitam, mas não tudo. Muitos
Têm já dito ouvir: que pena!
Que a palavra ‘carne’ não mata a fome, e que pena!
Que a palavra ‘roupa’ tão pouco consiga aquecer.”




           

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