E começaram bem. Bem criticadas. Lembremo-nos de Anita Malfatti e Lobato. O novo jeito de se fazer arte assustou o sóbrio escritor e fazendeiro, como era de se esperar.
Se antes elas eram objeto de desejo de pastores árcades ou homens melancólicos e "sem atitude", ou até mesmo tinham suas ações comparadas a de animais, como a Rita Baiana de Aluísio Azevedo, em O Cortiço; no movimento modernista elas assumem uma postura diferenciada.
Veja a poetisa Leila Míccolis, no poema "Em Órbita":
quero todas as intimidades de um amor escandalosamente carnudo,
sobretudo imperfeito (...)
quero um amor que não precisem devassar
porque é claro e transparente;
daí ameaçar a tanta gente
pesada,
que não sabe flutuar
nem libertar-se da seriedade (...)"
Tal mulher representada passa a criticar o gênero, de forma a sacudi-lo, chamando sua atenção à realidade em seu entorno, satirizando costumes machistas, como vemos num poema sem título presente na coletânea "Navalhanaliga", de Alice Ruiz.
toda exposta
àquele olhar
de garfo e faca
vendo
a mesa posta
minhas postas em fatias
ouvindo dos convivas
piadas macarrônicas."
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. (...)
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
Ouça "Betty", da cantora folk neozelandesa Brooke Fraser.